Meio ambiente, desigualdades e lideranças locais.

A lógica por trás da crise do meio ambiente. Qual o seu papel nisso? 

PorTati Silva

Lá vem a chata falar sobre as mudanças climáticas, efeito estufa e CO2. Sei que esse é um assunto que talvez, muitas pessoas estejam cansadas de escutar. Vou mostrar aqui como isso nos afeta como seres humanos. E busco incentivar um debate com possibilidades para mudar esse cenário no intuito de criar alternativas futuras ambientalmente possíveis.  

Provavelmente você já escutou a frase: o mundo atual é o mundo da tecnologia. Ela não está completamente errada, afinal foi a tecnologia que possibilitou o desenvolvimento de aplicativos, cartões com pagamento por aproximação e todos os serviços tecnológicos que facilitam as nossas vidas cotidianas. 

Entretanto, o mundo de hoje também é o mundo no qual grande parte da população ainda não tem acesso a direitos básicos. 

Quantos copos de água você já bebeu hoje? Quantas vezes você já foi no banheiro? 

Não importa a quantidade que você responder, só de você ter acesso a água potável ou a um banheiro isso te torna uma das pessoas privilegiadas do Brasil. Sim, para quem tem acesso pode parecer surreal, mas um grande grupo da população brasileira não tem acesso ao serviço de saneamento básico. 

Brasil, o país das desigualdades 

Se não conseguimos garantir que as pessoas tenham acesso a água e até mesmo ao banheiro, imagine como é o acesso a outros direitos, como: moradia, educação e saúde. E falando em um mundo tecnológico e globalizado, o acesso ao meio digital também deveria ser um direito básico. Se as pessoas ainda não têm garantido o acesso ao banheiro, imagine como é o seu acesso à internet e ao computador? 

Podem pensar: será que o acesso ao meio digital é mesmo importante? Hoje em dia, muitos dos serviços básicos da população estão relacionados a um serviço digital. Se a pessoa, portanto, não tem acesso à internet e computador, consequentemente fica sem acesso a esses serviços. Um exemplo? Aposentadoria. Para poder se aposentar, a pessoa cidadã precisa acessar o sistema do INSS pela internet. 

Mas o que o acesso à internet tem a ver com o meio ambiente? 

Vou te explicar! 

Ter acesso a recursos estratégicos é uma forma de enfrentar os desafios do mundo em relação a temática de meio ambiente. Por exemplo, o acesso à informação sobre desidratação pode salvar vidas. 

Exploração do meio ambiente 

Nós vivemos em uma era de antropocentrismo, que é caracterizada pela transformação do meio ambiente pelos seres humanos. Há, entretanto, uma desconexão entre as pessoas e o ambiente em que vivem. Desta forma, destruímos o espaço que em vivemos e que nos permite viver, sem entender que existe uma grande conexão entre eles. 

Esta destruição é feita por meio da exploração predatória de recursos naturais, materiais, financeiros e até mesmo, de recursos humanos. A exploração é reproduzida devido a uma lógica exploratória que há muito tempo vem sendo feita sem reflexão, como se não fosse possível usar uma outra lógica. Uma lógica até mais inteligente, em que o cuidado com o ambiente em que vivemos seja prioridade. 

A lógica exploratória vem sendo reproduzida desde a industrialização e é a grande responsável pelas mudanças climáticas. Sei que é um assunto que pode ser considerado chato por muitas pessoas, mas é um assunto que deve ser debatido, já que afeta a todos nós, como seres humanos, diretamente. Bora entender como? 

Extremos climáticos 

Vamos pensar em todas as situações de extremos climáticos que cada vez mais têm ocupado as capas dos jornais. As chuvas excessivas, que têm causado enchentes, o frio demasiado, que tem causado mortes e até neve no sul do Brasil. Você sabia que nevou no nosso país tropical?  

E como enfrentar esses estremos climáticos? Bem, pela forma como nossa sociedade é organizada, a distribuição de renda define quem tem acesso à informação e aos serviços para enfrentar esses extremos climáticos. Dessa forma, grupos minoritários, como mulheres, crianças, pessoas idosas, pessoas negras e pessoas com deficiência muitas vezes são excluídas desses acessos. 

O FA.VELA é um exemplo de organização que tem como proposta reduzir as desigualdades sociais. Busca construir futuros ambientalmente possíveis, guiados pela justiça social e o respeito aos direitos humanos. Para isso, desenvolvemos as habilidades empreendedoras, digitais e lideranças de grupos de pessoas historicamente vulnerabilizadas em nosso país.  

Mas como é possível mudar o cenário? 

Fortalecimento de lideranças diversas 

Segue o fio: grande parte da população brasileira se vê na necessidade de empreender. Sim, por necessidade, não estamos falando de escolha ou de querer aproveitar uma oportunidade de mercado. Estamos falando de empreendedorismo por sobrevivência. Sobrevivência, já que colocar à venda produtos ou serviços acaba sendo a única alternativa de renda para essas pessoas. 

Dentro desse grupo de pessoas então as que se identificam como autônimas, freelancers e os microempreendedores individuais, os famosos MEI’s. Esse grupo de pessoas, entretanto, apesar de ter a necessidade de empreender, não tem acesso a recursos para o desenvolvimento do seu empreendimento. Recursos estes que vão desde conhecimento de gestão até investimento financiamento. 

Acontece que as tomadas de decisões que impactam o meio ambiente são tomadas por grandes lideranças compostas por pessoas que vivem em uma bolha privilegiada. Essa bolha social não tem consciência dos desafios enfrentados pelo restante da população, como a falta de acesso aos serviços básicos e muitas vezes precários. Dessa forma, estas pessoas ignoram ou até mesmo negam os problemas climáticos e tomam decisões que priorizam o lucro e não o bem-estar de toda a sociedade. 

Além disso, vivemos um cenário que chamam de racismo ambiental, que é causado pelas injustiças sociais. Isso acontece porque a população vulnerabilizada, composta por sua maioria de pessoas pretas e outras minorias, são as que mais sofrem pela degradação ambiental. Os impactos do meio ambiente, portanto, não afetam toda a população de forma igual, este grupo historicamente marginalizado são os maiores impactados pela poluição e degradação ambiental. 

Como elas são mais afetadas? São os espaços que esse grupo de pessoas vivem que não tem investimento para saneamento básico, que sofrem com o despejo de resíduos nocivos à saúde, além de serem exploradas pela ação de grilagem. 

É preciso, portanto, políticas públicas para alterar esse cenário. Mas novamente caímos na questão, quem são nossos líderes? São as pessoas da bolha privilegiada que ignoram esses problemas, perpetuando as desigualdades do Brasil. Afinal, no mundo da tecnologia, alternativas para amenizar essas desigualdades existem, mas não são o foco dos nossos líderes. 

Para uma mudança, portanto, é importante desenvolver líderes com bagagens diversas que entendem a realidade da maioria da população. E para esse desenvolvimento, é preciso que os pequenos empreendedores tenham acesso ao conhecimento e a outras facilidades que podem impulsionar o seu negócio. 

Como você pode participar dessa mudança?  

Simples atos podem fazer toda a diferença. O ato de comprar de pequenos produtores locais, pode incentivar o crescimento das pequenas lideranças, assim como votar em pessoas que defendam as causas ambientais, voltados para o bem-estar da maioria e não apenas para a elite. Convido a todas as pessoas se juntarem à nossa luta, que defende o nosso direito básico de existir no planeta Terra.  

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Tati Silva