OSCs também são negócios e devem ser tratadas como negócios 

PorDébora Silva

Muitas pessoas desconhecem o trabalho de uma organização sem fins lucrativos. Por esse motivo, acabam acreditando em mitos que pairam sobre o terceiro setor. É urgente tornar claro para todas as pessoas o trabalho realizado pelas Organizações da Sociedade Civil. Não somente para que estas organizações tenham a valorização que merecem, mas para que as instituições que atuam neste setor se entendam como um negócio. Só assim, as organizações de impacto positivo vão se tornar duradouras e potencializarão seus impactos. 

Como dizem, vamos começar pelo começo: você sabe o que é terceiro setor? Pela ótica da economia, a sociedade é dividida em três setores, de acordo como as instituições se organizam. O primeiro setor é o setor governamental, seja federal, estadual ou municipal. Este setor é composto pelas instituições responsáveis pela administração pública. 

O segundo setor é composto pelas instituições privadas, ou seja, por empresas que pessoas criaram com o objetivo de ter lucro, por meio da venda de algum produto ou serviço. O terceiro setor é composto por instituições sem fins lucrativos. São pessoas que se mobilizam em prol de alguma causa social. O objetivo é gerar um impacto positivo na sociedade. 

Grande parte das instituições que compõe o terceiro setor são OSCs (Organizações da Sociedade Civil). Estas instituições eram chamadas de ONGs (Organizações Não Governamentais) até pouco tempo atrás, mas a nomenclatura foi alterada com o intuito de dizer o que elas são, ao invés de ter no nome o que elas não são.  

A importância do terceiro setor 

A atuação das organizações do terceiro setor são fundamentais para a sociedade. Isso porque os serviços oferecidos por elas alcançam uma parte da população que o poder público e/ou setor privado não alcançam. Enquanto o setor privado visa um público-alvo da sociedade, que vai lhe gerar maior lucro, o poder público atua de forma generalista, deixando de atender diversas demandas específicas de realidades diferentes. 

O fato do Brasil ser um país de dimensões continentais, torna complicado atender a todas as pessoas com a mesma eficiência e qualidade. Desse modo, grupos do terceiro setor tem a função de suprir essas demandas. 

Por exemplo, vamos imaginar que existe uma empresa de telefonia. Buscando maior lucro, ela decide atender apenas as populações das capitais do Brasil. O governo, observando isso, cria uma lei que obriga as empresas de telefonia a atender cidades do interior também. Dessa forma, a empresa começa a oferecer seus serviços para todas as cidades de um determinado Estado. 

Há cidades, porém, muito pequenas, onde a população não teve acesso aos avanços da tecnologia, não sabendo como utilizar os serviços oferecidos pela empresa de telefonia. Cabe, portanto, a uma Organização da Sociedade Civil, trabalhar com essa população, oferecendo acesso e conhecimento sobre as novas tecnologias que podem melhorar sua qualidade de vida. 

O trabalho no terceiro setor 

Existe uma ideia que paira sobre o terceiro setor de que todo trabalho realizado é voluntário, que tudo o que é oferecido é gratuito. É fato que boa parte dos serviços oferecidos para as pessoas beneficiárias são gratuitos ou possuem um valor social. Além do trabalho voluntário ser de extrema importância para este setor. Entretanto, é errada a ideia de que as Organizações da Sociedade Civil não precisam de dinheiro ou que seus serviços são de menor valor que os demais setores. 

Uma ação social tem seu custo, por este motivo as organizações, mesmo que sem fins lucrativos precisam de recursos. Ser sem fins lucrativos significa que a organização não gera lucro, ou seja, que ela precisa gastar todos os recursos financeiros em suas ações. O que é preciso esclarecer é que as organizações de impacto, assim, como qualquer outra empresa tem seu custo. 

Podemos citar como custos o aluguel do espaço físico, funcionários, materiais a ser utilizados, uniformes, divulgação (como sites, redes sociais e panfletos) e por aí vai, a lista é longa. Para captar os recursos financeiros, é possível que seja feita por meio de doações individuais, parecerias corporativas, editais públicos ou campanhas. 

Mas e trabalho voluntário? Este tipo de trabalho é essencial para o terceiro setor, já que os recursos normalmente são escassos, não sendo suficientes para realizar as ações da melhor forma possível. Dessa forma, o trabalho voluntário agrega muita qualidade às ações sociais. Além disso, saber que há pessoas dispostas a doarem seu tempo e conhecimento em prol de uma causa é muito satisfatório, pois evidencia que a sociedade está a favor da mudança.  

Fica evidente, por tanto, que não há tantas diferenças entre um negócio do setor privado dos negócios sem fins lucrativos. A grande diferença é que ao invés de focar em obtenção de lucros, as OSCs têm como métrica de sucesso os impactos positivos gerados. Para sua gestão, entretanto, seja financeira ou de pessoas, as diferenças são poucas. Por isso, defendemos a ideia de que organizações do terceiro setor são negócios! É importante que as pessoas responsáveis pelas OSCs se reconheçam como pessoas empreendedoras para se capacitarem para esta função. Essa mudança também pode acarretar a valorização do seu trabalho pelo resto da sociedade.  

Gestão de negócios do terceiro setor 

Pensando sobre a necessidade das Organizações da Sociedade Civil de se entenderem como negócios, o FA.VELA desenvolveu um projeto de capacitação para as pessoas que atuam no terceiro setor, o OSC Lab. Para este projeto, o FA.VELA reuniu todo o conhecimento adquirido ao longo dos 10 anos de atuação no terceiro setor e desenvolveu seis trilhas de conhecimento, formando uma jornada completa de aprendizado. 

Dentro dessa jornada vão ser abordados os temas: 

. Gestão de Negócios do terceiro setor: Reflexões sobre a missão, visão e valores. Desenvolvimento do planejamento estratégico institucional. Alinhamento de objetivos e metas de curto, médio e longo prazo. 
. Liderança organizacional: Análise de modelos de gestão organizacional inovadores. Debate sobre a importância da cultura, liderança e processos de gestão. Análise dos desafios de gestão e operação. Desenvolvimento de estratégias de inovação e transparência interna e externa. 
. Sustentabilidade financeira: Ampliação da visão sobre o tema de sustentabilidade financeira. Debate sobre estratégias de captação de recursos em editais nacionais e internacionais. Análise das perspectivas de valor compartilhado e relacionamento com diferentes atores do ecossistema. 
. Comunicação estratégica para OSCs: Análise das estratégias de comunicação com o público interno e externo. Desenvolvimento de gestão de partes interessadas, gestão da reputação, posicionamento e marketing relacionado a causas. 
. Gestão de projetos e inovação: Compreender novas abordagens de gestão de projetos de impacto social. Criação de inovações sociais. Análise de novas formas de gestão de projetos, metodologias e ferramentas que auxiliem na identificação, facilitação e triagem nos atendimentos das pessoas beneficiárias. 
. Políticas de ESG: Abordagem da relevância do monitoramento & avaliação. Apresentação de ferramentas para construção de indicadores, teoria da mudança e plano de monitoramento & avaliação. Debate sobre a relevância da mensuração de impacto social para o relacionamento com investidores e captação de recursos. Estratégias para a ampliação da rede de atendimento e impacto. 

Se observar os temas fica ainda mais fácil de perceber como o trabalho interno das OSCs é muito similar com o trabalho interno das empresas do segundo setor. Então, deixo aqui o convite para que as pessoas que atuam no terceiro setor se capacitem-se para tornar nosso setor cada vez mais forte. Só assim, em conjunto, vamos transformar a sociedade da maneira que desejamos.  

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Débora Silva