Cê Tá On - Capacitação Profissional

Conheça a jornada de 30 mulheres trans e travestis para se capacitarem profissionalmente 

Por FA.VELA

O projeto Cê Tá On contou com o eixo Capacitação Profissional, no qual 30 mulheres trans e travestis de Belo Horizonte participaram de uma jornada formativa para se capacitarem profissionalmente. Puderam escolher qual trilha seguir: capacitação para o mercado de trabalho ou para o empreendedorismo. Independente do caminho, o intuito era oferecer oportunidade para este grupo de pessoas que tem as portas fechadas apenas pela sua existência. 

Você já parou para pensar que para algumas pessoas o caminho para seguir profissionalmente é limitado, às vezes, há apenas uma única opção? Que não importa o quanto você se capacite, as oportunidades não estarão abertas para você? 

Infelizmente, essa é a realidade da maioria das mulheres trans e travestis. Como a Rúbia, mobilizadora social do Capacitação Profissional, disse: “eu não vou fazer um curso de Marketing, pois sei que lá na frente as empresas de marketing não estarão de portas abertas para mim”. 


Com o intuito de transformar essa realidade, mesmo começando pequeno, o projeto Cê Tá On, teve um eixo exclusivo para capacitação de mulheres trans e travestis de Belo Horizonte. Neste eixo, denominado de Capacitação Profissional, as pessoas beneficiárias puderam escolher qual trilha formativa fazia mais sentido para elas: Introdução ao mercado de trabalho ou Empreendedorismo e Carreiras digitais

Ao escolher a jornada de Introdução ao mercado de trabalho, as pessoas beneficiárias eram introduzidas à lógica CLT, conhecendo seus direitos e deveres como pessoa empregada, noções de controle financeiro, aulas para elaboração de currículo e posicionamento em entrevistas de processos seletivos, além de uma introdução ao setor de bares e restaurantes

Já na jornada de Empreendedorismo e Carreiras digitais, as pessoas participantes tiveram acesso a introdução a economia digital e aos processos de inclusão digital, aulas de marketing, produção de conteúdo, posicionamento de marca digital e gestão de carreiras digitais, além de conhecerem as principais redes sociais e ferramentas digitais do mercado atual

Como resultado, algumas pessoas participantes já saíram do projeto com seus negócios digitais aprimorados, com entrevistas para processos seletivos agendadas e até mesmo contratadas! 

Ao longo dessa jornada, acompanhamos essas 30 mulheres trans e travestis que toparam embarcar nessa capacitação conosco. Escutar seus relatos sobre as barreiras encontradas ao longo de suas vidas, apenas reforçou a importância da existência de projetos como este. 

O Preconceito 

Michelle, participante do projeto, relatou que participou de um concurso público para pessoa cuidadora e foi uma das pessoas aprovadas na prova. Ao enviar seus documentos, entretanto, por causa do seu nome de registro, teve a oportunidade barrada. Evidenciando que, para o grupo de pessoas trans e travestis, muitas vezes não importa sua qualificação, as portas do mercado de trabalho não estão abertas. 

A própria Rúbia, a mobilizadora social do projeto, contou que antes de sua transição o que não faltavam eram oportunidades para trabalhar no setor de gastronomia, no qual tem formação. Conta que era uma profissional muito demandada. Esse cenário, porém, mudou quando fez sua transição. As portas se fecharam, mesmo sendo a mesma pessoa, apenas com uma aparência diferente. 

Relatos nesse sentido são o que não falta. Por causa da recorrência de casos de preconceito, algumas pessoas acabam nem tentando entrar no mercado de trabalho formal com receio de enfrentar tais situações. É o que aconteceu com a Emilly, outra participante do projeto, que após sua transição preferiu não tentar ingressar no mercado de trabalho formal. 

Ela explica que, além dos casos da falta de oportunidade, há casos em que as mulheres trans e travestis até conseguem quebrar essa barreira e passar por processos seletivos. A oportunidade, infelizmente, muitas vezes é frustrada pelas “brincadeirinhas e comentários” de colegas dentro do trabalho.  

Por outro lado, conta que quando se depara com trabalhadoras trans e travestis por onde passa, sente muito orgulho. Pouco a pouco acredita que a sociedade está mudando. Sabe, porém, que para que se deem oportunidades para pessoas deste grupo, é preciso uma mobilização e campanha da empresa contratante.  

Diversidade dentro das empresas 

Hoje em dia não é incomum o termo diversidade aparecer nos discursos das grandes empresas, este é um tema que tem sido foco de muitos discursos corporativos. Já está comprovado os resultados positivos adquiridos ao ter uma equipe composta por pessoas com representatividade diversa

Diferentes experiências de vida, enriquecem o trabalho e o ambiente de trabalho. Por este motivo, empresas até criaram setores internos para assegurar a contratação de uma equipe com diversidade. Estes setores também são responsáveis por assegurar o bem-estar de todas as pessoas daquela empresa. 

Há uma discursão, entretanto, se as equipes que se dizem diversas realmente apresentam diversidade. Afinal, somente na sigla LGBTQIAPN+ há uma gama imensa de pessoas representadas. A realidade dentro das empresas, por outro lado, as pessoas representantes dessa comunidade muitas vezes se limitam a homens brancos gays ou mulheres brancas lésbicas. 

É preciso ressaltar que há diversidade dentro da diversidade. Ou seja, experiências de pessoas da letra G (gay) serão diferentes das experiências de pessoas da letra T (trans), por exemplo. Um homem gay não precisa passar pelo processo de registro de nome, por exemplo, nem mesmo tratamento hormonal. Isso sem falar na diferença de vivência de pessoas pretas, indígenas e PCD.  

Os setores de diversidade precisam ter a sensibilidade quanto a isso. Ao afirmar que uma empresa está aberta a comunidade LGBTQIAPN+ é preciso ter cuidado para não se limitar a apenas uma letra. É preciso estar aberto a toda a comunidade e sua complexidade. 

Oportunidades 

Infelizmente, é comum mulheres trans e travestis terem que sair cedo de casa, pela não aceitação da família, não tendo acesso nem mesmo à educação básica. Então esperar que apareçam candidatas trans e travestis com qualificação pode ser fora da realidade. 

Claro que estas pessoas existem, mas se formos analisar é um número muito pequeno comparado ao número total de pessoas trans e travestis do país. É quase uma exceção à regra. Por isso a importância de se dar, de fato, oportunidade. 

Cheila, também participante do Capacitação Profissional, defende que quando se fala em oportunidade para o público trans e travestis é quando uma empresa está aberta a receber uma pessoa deste grupo sem qualificação e disposta a capacitá-la. Para ela, se uma pessoa trans precisa chegar pronta para vaga, ela, na verdade, está concorrendo a vaga por competência, e isso não caracteriza uma oportunidade. 

O projeto Cê Tá On 

É neste contexto que o projeto Cê Tá On decide trabalhar com o público de mulheres trans e travestis, capacitando este grupo de 30 mulheres para abrir uma nova perspectiva de futuro. O projeto Cê Tá On é fruto de uma parceria inédita entre a Prefeitura de Belo Horizonte, o Governo Britânico, por meio da UK-Brazil Tech Hub, e o FA.VELA.  

Se quer saber mais como foi a jornada dessas 30 mulheres trans e travestis, escute nosso Podcast

Neste episódio exclusivo do Cê Tá On, realizamos o encontro de 3 participantes do projeto com representantes da Prefeitura de BH, Governo Britânico e nós, do FA.VELA. 

Foi um bate papo incrível, com trocas enriquecedoras para todas as pessoas! 

Dá o play e aproveite você também!

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FA.VELA