Os videogames estão deixando de serem vistos como entretenimento e sendo vistos como esportes eletrônicos. Esta mudança de visão deixa de lado a imagem que os videogames fazem mal para os jovens, valorizando os aprendizados de quem joga com a prática. Além disso, como em qualquer outro esporte, abre debates sobre a inclusão de mulheres e grupos historicamente vulnerabilizados.
Já foi a época que as pessoas gamers, como são chamadas as pessoas jovens que jogam videogames, eram vistas como aquelas que não gostam de se socializar, que preferem ficar sozinhas no quarto, sem contato com o ambiente externo. Gamers, na verdade, fazem parte de uma outra forma de socialização, que foi permitida pela tecnologia.
Enquanto está com o fone de ouvido, a pessoa gamer está conectada com seu grupo de amizade. A partir dos jogos essas pessoas desenvolvem habilidades como saber trabalhar em equipe, organização e colaboração, além de respeitar liderança, muito valorizadas no mercado de trabalho atual.
O nome E-sports é resultado da junção de duas palavras em inglês: eletronic e sports, que traduzindo significa respectivamente eletrônico e esportes. Esse termo foi usado pela primeira vez em 1999, antes era chamado de “online sports game”, traduzindo para português seria jogos esportivos online. Apesar do nome já estar ligado ao termo esportes, ainda há uma discussão se a prática se ela deve ser, ou não, considerada uma modalidade esportista.
É ou não é esporte?
De acordo com o dicionário um esporte pode ser caracterizado como:
1. Prática metódica de exercícios físicos visando o lazer e o condicionamento do corpo e da saúde;
2. O conjunto das atividades físicas ou de jogos que exigem habilidade, que obedecem regras específicas e que são praticados individualmente ou em equipe;
3. Cada uma dessas atividades; desporte, desporto.
4. Atividade de lazer ou de divertimento; hobby, passatempo.
(Fonte: dicionário Michaelis)
Analisando o E-sports por essa perspectiva, ele se encaixa na categoria de esportes, já que possui regras, treinamento, entidades e campeonatos. Não se engane, para se tornar profissional de jogos eletrônicos é preciso muita dedicação e treinamento, assim, como qualquer atleta. Entretanto, existe um grupo de pessoas que não aceita o E-sports como uma modalidade esportista pelo fato de não existir desgaste físico.
Neste ponto, existem que defenda que os E-sports demandam um outro tipo de desempenho físico, como é o caso do xadrez e fórmula 1, por exemplo. No E-sports as demandas seriam raciocínio, estratégia, velocidade, habilidade, destreza, controle emocional, processamento de diversas informações ao mesmo tempo, comunicação e trabalho em equipe. O E-sports, dessa forma, poderia ser um misto de xadrez com automobilístico, já que trabalha a mente e utiliza um mecanismo para jogar.
Ainda falta muito para se ter um consenso. É normal que este tipo de discussão leve certo tempo, visto que a sociedade está em constante mudança e é preciso analisar tudo antes de tomar uma decisão. Há pouco tempo vimos o Skate se tornar uma mobilidade olímpica, por exemplo, essa foi uma conquista de uma longa batalha, já que o esporte já chegou a ser proibido nos anos 80 na cidade de São Paulo.
No Brasil a discussão sobre se E-sports é ou não é um esporte está cada vez mais forte, já que nosso país bate recorde de número de fãs de games eletrônicos. Com esse número alto, a indústria está de olho no mercado brasileiro. E a partir daí surgem as discussões sobre quem são esses fãs?
O E-sports é para quem?
Como sempre, a pauta sobre a desigualdade no Brasil aparece. Sim, a desigualdade afeta todos os aspectos da sociedade, incluindo o E-sports. Como? Os videogames, desde sua origem, são considerados artigos de luxo. Os jogos eletrônicos só se tornaram acessíveis às pessoas jovens pertencentes à grupos historicamente vulnerabilizados quando ganharam versão mobile, ou seja, jogos que são jogados por celulares ao invés de computadores ou consoles. Porém, demorou quase uma década para esses tipos de jogos serem introduzidos no mercado.
Além disso, surgiram jogos que se adaptam a diferentes tipos de bolsos, há os pagos integralmente, os pagos parcialmente e os gratuitos. Dessa forma, se por um lado um jogo gratuito que pode ser jogado pelo celular se tornou acessíveis às pessoas de baixa renda, ainda há uma barreira para que esta pessoa tenha acesso aos outro jogos que se destacam nos campeonatos. Até porque, quando falamos em compra de jogos, muitas vezes estamos falando de acesso a cartões de créditos internacionais, já que os jogos não são brasileiros.
E vale sempre lembrar que, por mais que seja possível a profissionalização dos jogos por meio do celular, para se tornar profissional é preciso ter uma boa internet e estabilidade financeira para investir em bons equipamentos, além de tempo para treino. E isso é algo que a maioria das pessoas jovens no Brasil, não têm. Isso significa que, a maioria das pessoas gamers hoje são pessoas de classe média e rica da sociedade brasileira.
Mas é só para os meninos?
Não! Infelizmente o mundo gamer, assim como o mundo da tecnologia de forma geral, ainda é muito masculino. Isso é resultado da nossa sociedade, que incentivava os meninos a jogar videogame e meninas a brincar de bonecas. Muitas das mulheres que jogam hoje em dia, tiveram acesso aos jogos pelos seus celulares, ou usavam o videogame de outras pessoas da casa.
Para tornar a introdução das mulheres aos jogos eletrônicos ainda mais difícil, esse ambiente é machista. Quando outros jogadores descobrem que há uma jogadora mulher (já que elas usam muitas vezes nomes fantasia), elas são muito mais cobradas dentro dos jogos, além de serem ofendidas.
Este cenário precisa mudar rapidamente, até porque hoje as mulheres são a maioria da audiência dos jogos eletrônicos no Brasil. Sabemos que essa mudança não será fácil, já que por muito tempo a própria indústria fomentava o machismo nesse meio. Os jogos traziam imagens de mulheres hiper sexualizadas como personagens femininas para atrair a atenção dos jovens homens. Por consequência, reforçando os estereótipos de gêneros.
Como forma de reduzir essa desigualdade entre homens e mulheres no mundo gamer, os campeonatos começaram a obrigar a presença de time femininos. Apesar de ser um grande passo, sabemos que essa atitude não mudará o cenário geral. Afinal, machismo é algo que está impregnado em toda a sociedade. E infelizmente, todo mundo perde, com a falta de participação das mulheres no mundo virtual.
Os benefícios do E-sports para as pessoas
Como já citado, os E-sports, assim como outros esportes, desenvolvem diversas habilidades nas pessoas que jogam. Mesmo não buscando uma carreira profissional, as pessoas saem desse meio no mínimo sabendo trabalhar em equipe e respeitando lideranças. Essas características são muito valorizadas no mercado atual.
Além disso, o mundo gamer abre um leque de oportunidades de trabalho, não apenas como gamer profissional, mas na parte de trás, no seu desenvolvimento, desde a concepção da história do jogo, até a engenharia da sua construção.
Pensando nisso, o FA.VELA vai oferecer o primeiro Torneio Morrobótica de E-sports. Participantes do Morrobótica I e II podem se inscrever para concorrer. O campeonato vai contemplar jogos de Playstation e Xbox. Equipes vencedoras vão ganhar prêmio incríveis!
O torneio vai rolar no sábado, dia 29/07.
Se você participou ou participa do Morrobótica, se inscreva!